quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CURURU PAULISTA

"Improvisar não é a arte de inventar todo o tempo versos e estrofes inéditas. Muitas vezes sua artesania está no fato de saber combinar palavras, frases e mesmo silêncios, recorrendo ao acervo de versos da tradição de que dispõe o poeta ou o cantador".
..."a poesia oral improvisada é uma arte universal, com longas e diversificadas trajetórias em quase todos os continentes."

A influência trazida pelos portugueses no início da catequização dos indígenas no Brasil pelos jesuítas sofreu a intercorrência da cultura indígena pela dança. Sua referência religiosa vem da utilização em festas religiosas fora (e talvez dentro) do templo. (Mário de Andrade)

Os desafios podem ser compostos por quatro cantadores, com duas duplas, também pode ser feita por números ímpares, ou em dois cantores que desafiam-se mutuamente.
"A rima é essencial no Cururu ( também chamada carreira)...Pode-se fazê-la, por exemplo na carreira do São João, em que as rimas terminam em "ão", na carreira do Divino, com terminações em "ino", ou na carreira do "A", do sagrado (ado), do "dia" (ia), do "abecê" (ê) e assim por diante. É habitual o início das cantorias na carreira do São João e o encerramento na "do dia", costume esse de quando os encontros se faziam para louvações religiosas e se encerravam ao amanhecer."

Fonte : Na Ponta do Verso  Poesia de improviso no Brasil
Alexandre Pimentel e Joana Correa - Associação Cultural Caburé
livro doado por Gusto Belo à Oficina Cultural Joanino Maimone

Nossa memória "cururueira", por assim dizer, vem dos tempos de Zico Moreira, avô do Zão Mariano. Gusto Belo, nosso intérprete, que teve a oportunidade  de participar das toadas em sua companhia prometeu ainda uma gravação para regisro de suas memórias, causos e experiência com os grupos de cururu . Havendo poucos que ainda participam de encontros disseminados pelo Estado, quando são reunidos é só alegria e entrar pela madrugada a fora, pois ninguém arreda pé do desafio.



Homenagem à Zico Moreira                      You Tube

Para o Zico Moreira (na carreira do abecê)

1902, nóis não podemo esquecê
dia 14 de outubro, isto foi no amanhecê
e nasceu Zico Moreira, muito veio conhecê
era um lindo garotão, nasceu no Bairro do Matão
Município de Tietê.
Com vinte anos de idade começou aparecê
cantou mais de setenta ano, foi difice ele perdê
com cem ano e trinta e cinco dia, ele veio a falecê
gravou na nossa memória, seu nome ficou na história,
pra nunca ninguém esquecê.

Agora só resta saudade, nunca mais vamo vê
a sua voz ficou gravada, ela vai permanecê
seus verso e suas toada, seu bachão fazia cantadô tremê
agradava plateia intera, cantadô igual o Moreira
só por Deus pode nascê

Ele gravô muito disco, fez sua fama crescê
não contava vantage, não cantava pra perdê
Ele fez sua passage, eternamente foi vivê
foi o rei dos cantadô, ele canta pro Nosso Senhô
sem adversário prá respondê.

Moreira chegou a hora, subiu pra nunca mais descê
nessa sua trajetória, cantava prá vencê
seu nome ficou na história, todos tem que sabê
nosso corpo a terra come, nossa honra e nosso nome
nunca vai morrê.

composição: Augusto Belo

You Tube - Cantinho Sertanejo -  Zico Moreira- 1998

No ano novo recebemos um presente pois "seu" Gusto Belo e seu amigo Jonata Neto, outro grande repentista reconhecido, vindo de Piracicaba, nos brindou com uma tarde ensolarada de canções como a batizar e adentrar o ano "trabalhando".

Um abraço a todos e embora no improviso de uma gravação conseguimos registrar esse momento tão faceiro na nossa Oficina. Logo mais tentaremos colocar a gravação.

Seu Gusto Belo também pode ser visitado na última gravação para o DINESPORT de Laranjal Paulista, é só entrar no Site e procurar pela reprise do dia 8 de agosto.
You Tube - PaoloZacharias     Gusto Belo e Jonata Neto

Poesia da Roça

Atividade  do mundo que faz a gente sofrê
Quem traz a vida no seguro, seu jeito de vivê
Outro faz serviço duro, que ninguém que fazê
Muitos procura um jeitinho, pra se protejê

Até o pessoal da roça, já tá dando de esmorecê
Procurando ganhá um dinheirinho, pra comprá e vendê
Ou pra estudá seu filho, pra da roça não dependê
Outro estuda prá médico pra doenças que aparecê

Outro estuda pra padre, quero explica porquê
Faz batizado e casamento e confessa pra morrê
Outro estuda pra advogado pra nossas briga defendê
Advogado ganha prá soltá, polícia ganha prá prendê

É por isso que o pobre, que no mundo tem que sofrê
pouca gente prá plantá, e bastante prá comê
O lavrador vai na cidade, com medo de se perdê
A vida da roça é tão dura, ele tem razão de esmorecê

Da roça vem o mantimento, prá o pobre e o rico comê
A vida do lavrador, mais difice não pode havê
E todo contratempo o lavrador tem que sofrê
Com fé e corage, com Deus eu vo vencê

Tem tempo que chove muito, tem tempo que não qué chovê
Depois que ele colhe vem na cidade prá vendê
O pobre que não tem recurso sofre muito prá vivê
Trabalhando por dia, para o pão podê comê

composição: Augusto Belo


Youtube - Cantinho Sertanejo - Gusto Belo

O "Baixão" trata-se de um aquecimento da voz e busca de harmonia com o violeiro no início da cantoria, caracterizando-se por um lai rai lai rai e assim vai...

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