Almoço da Norata e Capelinha de São Benedito da Norata
Dia 13 de Maio é dia da Abolição dos Escravos. Nesse dia Dona Norata sempre fazia uma homenagem chamando o povo para rezar o terço a São Benedito, em agradecimento pela graça alcançada e servia o café da manhã na Alvorada ao som da Lira Antoniana! Nosso Patrimônio Histórico Imaterial, maior referência na história de nossa cidade, sua família continua a servir o Pãozinho de São Benedito da Norata,
Nesta segunda feira, às 15:00h venham prestigiar e rezar o terço pra
São Benedito da Norata!
À Rua Pernambuco foi construída, há aproximadamente cem anos, uma capelinha de São Benedito pela Dona Honorata de Camargo.
Inicialmente costumava realizar a reza do terço de São Benedito oferecendo um almoço à comunidade propiciado pela captação de prendas e alimentos como nas festas dos santos nos bairros rurais. Depois levantou entre os amigos e festeiros da cidade a verba necessária para a construção da capelinha.
Ainda hoje é preservada a reza anual em intenção a São Benedito.
Nhá Norata. acervo da Capela. Ruth Mariano e Nubia Burgarelli, bisneta e tataraneta da Nhá Norata: Responsáveis pela manutenção e continuidade da tradição de São Benedito
.
Nhá Norata era filha de escravos libertos na propriedade dos pais de Dona Hermengarda Henriques, mãe da Maria Teresa e do Tidico e irmã de dona Vera Henriques (NUNES, Luis). As meninas Hermengarda e Vera moravam em Pereiras, numa antiga casa de taipa que meu pai um dia levou-me para conhecer. O quintal, muito à moda dos pereirenses, se juntava a uma chácara, nele existia um pouso de tropeiros, o que eleva em muito a história dessa gente, pois o Pouso de Tropeiros de Pereiras era famosíssimo no caminho que levava ao Mato Grosso, por causa desse caminho de tropeiros que iniciamos a história de nossa cidade.
Nhá Norata então conheceu seu marido, um tropeiro vindo do Sul e casou-se, vindo a morar em Conchas.
Segundo o Antropólogo Conchense Luiz Nunes, a Imagem de São Benedito da Norata foi feita pelo seu pai, o escravo Tobias, relatado pela Dona Hermengarda. O corpo é de madeira e a cabeça e mãos em gesso. A própria imagem pode ser tombada também. Lembrando que tombamento significa fazer parte de um livro de Tombo ou registro.
A imagem é de fins do século XIX. No início ela benzia em um quartinho, a capelinha foi construída entre os anos de 1909 e 1914 , segundo os registros de cartório encontrados pelo Luiz Antonio Fescína.
São Benedito era cozinheiro, e um santo negro! Quando no mosteiro, fazia muitos milagres na cozinha em sua vontade de servir e a caridade em que socorria os pobres e necessitados.
"Algumas versões dizem que ele nasceu na Sicília, sul da Itália, em 1524, no seio de família pobre e era descendente de escravos oriundos da Etiópia. Outras versões dizem que ele era um escravo capturado no norte da África, o que era muito comum no sul da Itália nesta época. Neste caso, ele seria de origem moura, e não etíope. De qualquer modo, todos contam que ele tinha o apelido de “mouro” pela cor de sua pele.
Foi pastor de ovelhas e lavrador.
Aos 18 anos de idade já havia decidido consagrar-se ao serviço de Deus e aos 21 um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis chamou-o para viver entre eles e aceitou. Fez votos de pobreza, obediência e castidade e, coerentemente, caminhava descalço pelas ruas e dormia no chão sem cobertas. Era muito procurado pelo povo, que desejava ouvir seus conselhos e pedir-lhe orações.
Cumprindo seu voto de obediência, depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos. Sua piedade,sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo, pois não havia sido ordenado sacerdote. Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, pois fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu com muita humildade mas com alegria suas atividades na cozinha do convento.
Sempre preocupado com os mais pobres do que ele, aqueles que não tinham nem o alimento diário, retirava alguns mantimentos do Convento, escondia-os dentro de suas roupas e os levava para os famintos que enchiam as ruelas das cidades. Conta a tradição que, em uma dessas saídas, o novo Superior do Convento o surpreendeu e perguntou: “Que escondes aí, embaixo de teu manto, irmão Benedito?” E o santo humildemente respondeu: “Rosas, meu senhor!” e, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que suspeitava o Superior.
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Benedito mais informações é só clicar no link
São Benedito morreu aos 65 anos, no dia 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália.
Na porta de sua cela, no Convento de Santa Maria de Jesus de Palermo se encontra uma placa com a inscrição em italiano indicando que era a Cela de São Benedito e embaixo as datas 1524-1589, para indicar as datas do nascimento e de sua morte. Alguns autores indicam 1526 como o ano de seu nascimento, mas os Frades do Convento de Santa Maria de Jesus consideram que a data certa é 1524."
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Benedito
Se formos analisar a época em que Dona Norata viveu e entender as condicionantes de seu tempo, perceberemos que uma menina que nasceu na época da Libertação dos Escravos (1888), em que muitos ficaram abrigados nas próprias fazendas, alguns como trabalhadores libertos, outros como agregados, devido à dificuldade de aceitação na sociedade vigente, onde milhares de negros foram despejados nas cidades, sem infra estrutura, sem conhecimento, sem trabalho, e ainda por cima marginalizados. Não tinham onde morar e ainda por cima sem trabalho pois muitos dos proprietários, acostumados a vida fácil - afinal o negro era abanador, era bujão de gás, era ele que buscava a lenha, era chuveiro, encanamento, era ele que buscava a água, era esgoto, era ele quem jogava o barril de excrementos, era abanador e etc (Carlos Lemos apud Lúcio Costa), depois da luta para libertá-los, jamais aceitariam ter que pagar pelo seu trabalho, preferiam pagar e investir na imigração, onde pessoas buscavam trabalho e tinham disponibilidade e energia para tanto, imaginem a auto estima e vitalidade de quem foi espancado, ultrajado e muito mais. Muitos proprietários, aqueles que torceram e vibraram com a libertação e já estavam preparados para esse momento, já vinham tratando seus companheiros de jornada com afetividade, faziam parte da família e de sua cultura, muito embora continuassem em sua lida pelas cozinhas e lavoura. As senzalas foram adaptadas para os imigrantes que chegavam em levas e trazidos pela ferrovia recém inaugurada, na abertura de novos caminhos pelo sertão a fora. Novas famílias foram se formando e Dona Norata casou-se e veio morar em Conchas, numa Conchas vibrante que crescia vertiginosamente com a chegada da ferrovia. Novas possibilidades, nessa época cheia de trabalho pois a cidade de Conchas, na passagem do século XIX para o XX não passava de um aglomerado de casinhas, muitas de tábua ainda, e oferecimento de novos serviços. Porém, o negro tinha sua posição muito mais marginalizada do que hoje, basta imaginar viver dez anos após essa revolução nos costumes.
Nhá Norata mostrou ser profundamente atuante na sua comunidade, de uma identidade marcante e extremamente independente, uma particularidade incomum para a época. Tornou-se o esteio forte no acolhimento dos necessitados , pobres e famílias menos abonadas da região rural.
Essa comunidade tornou-se tão fortalecida em sua cultura, principalmente pela busca de proteção, cura e aceitação. As comunidades se afeiçoam primeiramente pela singularidade de traços e afinidade de gostos.
Notamos que os pontos mais altos da cidade são referência na busca dessa proteção e assim desde o início das cidades, lá na antiguidade. Misto de busca de proteção e depois de força e poder, vamos notando que os Coronéis e fazendeiros do café, aqueles q dispunham de maior acesso ao conhecimento vão se agregando em comunidades religiosas nos pontos mais altos da cidade, representado pela Capela de São Bom Jesus. Depois a Capelinha de Santa Cruz vai sendo o ponto onde os filhos de lavradores, de propriedades menores, vão se socializando e finalmente notamos o fenômeno do fortalecimento de uma comunidade mais carente na ereção da Capelinha de São Benedito, onde os mais necessitados vão se afinando nas orações voltadas para um santo que poderia ouvir seus clamores, entender suas dores e angústias geradas numa sociedade fruto do não comentado porém tão sentido preconceito.
Mapa da Cidade de Conchas - Biblioteca Municipal Emília Guarino. Arquivado no Departamento de Obras da Prefeitura Municipal de Conchas
Dona Norata venceu o mundo!
Portadora de infindável senso de solidariedade e caridade, realizou seus votos se tornando uma verdadeira devota do Santo de sua afeição. Capaz de uma liderança bendita, representa para nossa cidade o que vamos identificar em todos os cantos do Brasil na ereção de igrejas construídas pelos pretos, lá onde teriam possibilidade de orar sem que alguém se levantasse por se sentir contrariado ou que sua presença pudesse ferir a suscetibilidade dos mais afortunados.
Com o passar do tempo a cidade toda foi abraçada por seu amor, todos tinham um lugarzinho em seu coração, e todas as mães corriam para benzer seus rebentos de qualquer desafeição.
Texto: Virgínia Martins de S. Caram
Texto
escrito por Daniel Crepaldi
década de 1980
década de 1980
"Honorata Rodrigues de Camargo, natural de Pereiras. Filha de escrava
com senhor branco alcançou o tempo de escravidão. Comeu na cuia. Casou-se com
um tropeiro, José Rodrigues de Camargo (olhos azuis), com quem viveu muito
feliz. Viveu toda sua vida na cidade de Conchas, SP. Desse casamento nasceram
cinco filhos, vinte e dois netos, cinqüenta e dois bisnetos, e setenta Ficou
viúva ainda jovem. Trabalhando duramente conseguiu criar seus filhos. Todos se
casaram ela ainda teve tempo de criar alguns filhos dos outros. Foi uma grande
mulher, quituteira de primeira mão. Era chamada e requisitada para quase todas
as festas de casamento para cozinhar. Fez muitos banquetes para os ricos.
Benzia de quebranto, pelas suas mãos passaram muitos doutores de Conchas e da
sociedade conchense. Na sua casa acolheu pessoas de todas as classes. Para ela
não tinha nem pobre nem rico, todos eram iguais. Tinha um quintal grande,
onde o pessoal do sítio recolhia e guardava seus cavalos. Todos almoçavam e
jantavam com ela, sua panelinha fazia milagres (ficou conhecida como a
panelinha da Norata).
São Benedito da Norata, como é conhecido por todos, ela ganhou de um
escravo por nome de Nhô Mathias, que lhe disse:
“Norata, eu vou morrer logo, logo e quero
lhe pedir que fique com meu São Benedito. Ele olhará por você. Você vai ver que
nada faltará na sua casa.”
E assim foi. Quando ele morreu, ela foi buscar o São Benedito da
Norata. O povo trazia-lhe de tudo, principalmente o pessoal do sítio. O santo
tem seu corpo em madeira esculpido a canivete pelos escravos. È muito
milagroso. Quantas e quantas vezes já foram alcançadas graças pelos seus
devotos.
A Banda de Música local teve seu primeiro uniforme, doado por Nhá
Norata. Ela fazia leilões com o que ganhava do povo. Assim conseguiu fazer
muitas coisas, inclusive erguer uma Capelinha de São Benedito, existente até
hoje em seu terreno, que hoje pertence a
uma neta e de sua filha Maria das Dores de Camargo, continua a olhar por São
Benedito. Antigamente, quando ainda vivia, todos os dias treze de maio, a Banda
de música fazia alvorada em sua porta e Nhá Norata os servia logo após com
bolinho caipira com café. Ajudava muita gente, sua casa era um hotel. Muita
gente se hospedava em sua casa, doentes em tratamento, crianças que moravam em
sua casa para estudar, etc.
Criou e fez casar muitas moças, sempre à custa de seus quitutes, que
fazia e vendia num velho tabuleiro, em ocasiões de festas, na porta de circo,
ou mesmo em sua própria casa. Foi boa e caridosa, sempre recomendando o São
Benedito.
Homenagem a "Nhá Noráta" Composição de "Miro Alves"
08/05/86
08/05/86
Me lembro da velha casa
Que a "Nhá Noráta"
Em Conchas morava
E quando me adoecia
Ela me benzia
E sempre me curava
Dentro de uma capelinha
Com as criancinhas
E um terço na mão
Curava doenças e quebranto
E pedia a seu Santo
Em sua Oração
Refrão
Enquanto a terra for terra
Enquanto a lua for lua
Descance em paz "Nhá Noráta"
Que a missão continua
Comemoramos a data
Cantando a uma vóz
São Benedito
Rogai por nós
E por agradecimento
Muitos alimentos
Para ela traziam
Ela era a Mãe dos pobres
Com ela comiam
Um dia ela morreu
Foi morar com Deus
Lá no infinito
Ficou por lemrança dela
A sua CAPELA
E SÃO BENEDITO
Refrão
Enquanto a terra ....
No dia de São Benedito
Como é tão bonito
Ver a multidão
Comendo a Santa Comida
Pelo Padre Benzida
Com os pedaços de Pão
Quem entrar em sua capela
Rezando por ela
Fazendo os pedidos
Em sua Santa Oração
Se for com devoção
Serão atendidos
Refrão
Enquanto a terra for terra
Enquanto a lua for lua
Descance em paz "Nhá Noráta"
Que a missão continua
Comemoramos a data
Cantando a uma vóz
São Benedito
Rogai por nós
Colaboração de Ruth Mariano
Virginia,belo resgate.D.Norata faz parte da história da cidade ,precisava ser registrada sua passagem e tudo que fez.Lembro muito bem dela ,figura carismática.Quando pequena tinha medo do Sao Benedito rs rs rs .Conheci seus filhos,Benedito,foi motorista de Adhemar de Barros,Irineu ,musico ,jogador de futebol e funcionário da prefeitura e Joao,conhecido por Joao Cascalho tb funcionário da prefeitura.
ResponderExcluirMuito obrigada pelas postagens Toty! Como sempre você faz o link com o conceito de preservação, o sentimento e a memória. Acredito que seja a filha do João Cascalho que pinta maravilhosamente bem, tendo já participado de várias exposições. mamãe adquiriu um quadro dela, que ficava na sala. Tem estilo próprio e pinta paisagens de observação. Vou pesquisar o nome!
ExcluirVirginia , os filhos do Joao eram a Luzia e o Valmir,se a memória nao falha.A mae ,D.Emília ,era da família Antonelli e trabalhava na Caixa Economica.Frequentei a casa deles em companhia da Cleide Silva,cuja mae tb era Antonelli.Moravam na rua Pernambuco esquina com Pará.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDeus abençoe você Virginia por ajudar a manter a Capela de São Benedito que minha tataravó fundou!
ResponderExcluirAss. Vilma Simão
Damos continuidade na luta pela sua preservação Vilma ha mais de dois anos!É um prazer enorme poder ajudar e faz parte das nossas referências mais antigas!
ResponderExcluirO Luiz Antonio Fescina tem feito um belíssimo trabalho de pesquisa que tem propiciado uma grande vantagem junto à Câmara e órgãos oficiais. Com a Graça de Deus tudo dará certo!
ResponderExcluirParabéns pelo belíssimo trabalho de resgate da memória conchense! É uma honra conhecer pessoas como vocês ...Especialmente você , Virgínia Caram , que tem superado todas as barreiras para ver seu sonho realizado!
ResponderExcluirMuito obrigada Suraya. Você tem ajudado em muito justamente naquilo que a cidade mais precisa: o estímulo para que nossos bens culturais sejam divulgados e conhecidos nas escolas. Conscientizando os professores da rede de ensino sobre a importância do estudo e conhecimento da história da cidade estaremos propiciando a formação de cidadãos capazes de amar, respeitar e lutar pela cidade no futuro. Parabéns a todos vocês professores!
ExcluirEstimadas,.estou encantada com a beleza desta capelinha. Adoraria poder conhecê-la por dentro. Alguém sabe dizer quem possui as chaves?
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